quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

DERMATITE ATÓPICA EM CÃES E GATOS

A dermatite atópica (DA) é uma doença
que envolve vários fatores como alergias, defeitos da barreira cutânea, infec-
ções cutâneas, infecções microbianas e
outros fatores predisponentes (NUTTAL,
2008).
A atopia é uma reação de hipersensibilidade do tipo I, o que significa que
vários alérgenos são capazes de promover anticorpos alérgeno- específicos
(IgE e IgGd). A reação destes anticorpos,
fixados às superfícies dos mastócitos,
com os alérgenos específicos induzem
a liberação de mediadores responsáveis
pela reação inflamatória e pelo prurido.
Enzimas proteolíticas, histamina e leucotrienos são os mediadores mais comuns
(WILLEMSE, 1998).
Dependendo dos alérgenos envolvidos,
a atopia pode ser estacional ou perene.
Das alergias não estacionais, 30% irão
resultar em problemas alérgicos perenes
(WILLEMSE, 1998).
A DA é comum em cães e também ocorre em gatos (MEDLEAU; RAKICH, 1996).
A idade de surgimento da doença situase entre 1 e 3 anos em 75% dos cães
afetados e as raças mais predispostas
são Pastores alemães, Boxers, Labrador
retrievers, Golden retrievers, Cairn terries, West Higland White terriers, Fox
As mudanças microestruturais da epiderme levam à sensação de prurido e
iniciam o ciclo de amplificação de resposta inflamatória. O prurido contínuo
induz injúria mecânica dos ceratinócitos,
onde estes possuem importantes fun-
ções efetoras e determinam a direção
da resposta imune tegumentar. Quando lesados, os ceratinócitos liberam IL-1,
IL-2, TNF-α, GM-CSF e TSLP, que promovem migração e a proliferação de células dendríticas na epiderme. As células
dendríticas servem como sentinelas do
Incidência
Imunopatologia
terriers, Irish setters, Poodles e Schnauzers miniatura (WILLEMSE, 1998), porém Lucas (2008) adiciona Shar Pei, Terrier Escocês, Lhasa Apso, Dálmata, Pug,
Setter Irlandês, Cocker Spaniel, Buldogue Inglês, Akita, Schnauzer miniatura,
mas pode ocorrer em qualquer animal,
mesmo naqueles sem raça definida.
sistema imune e, uma vez ativadas, migram para os linfáticos e linfonodos e, a
partir da liberação de IL-4, IL-5 e IL-13,
conduzem à diferenciação de linfócitos
T0 em linfócitos TH2, os quais migram
para a pele. (FARIAS, 2007).
Com a queda da barreira tegumentar,
inúmeros alérgenos são difundidos por
via transepidérmica. Estes são reconhecidos, fagocitados e apresentados pelas
células dendríticas epidérmicas aos linfócitos TH2, os quais estimulam a proliferação de linfócitos B e a produção
Estima-se que entre 10 a 15% da população de cães seja afetada pela dermatite atópica, devendo ser suspeita em
todos os cães com prurido, piodermites,
otites e malasseziose recorrentes (FARIAS, 2007).
As mudanças microestruturais da epiderme levam à sensação de prurido e
iniciam o ciclo de amplificação de resposta inflamatória. O prurido contínuo
induz injúria mecânica dos ceratinócitos,
onde estes possuem importantes fun-
ções efetoras e determinam a direção
da resposta imune tegumentar. Quando lesados, os ceratinócitos liberam IL-1,
IL-2, TNF-α, GM-CSF e TSLP, que promovem migração e a proliferação de células dendríticas na epiderme. As células
dendríticas servem como sentinelas dosistema imune e, uma vez ativadas, migram para os linfáticos e linfonodos e, a
partir da liberação de IL-4, IL-5 e IL-13,
conduzem à diferenciação de linfócitos
T0 em linfócitos TH2, os quais migram
para a pele. (FARIAS, 2007).
Com a queda da barreira tegumentar,
inúmeros alérgenos são difundidos por
via transepidérmica. Estes são reconhecidos, fagocitados e apresentados pelas
células dendríticas epidérmicas aos linfócitos TH2, os quais estimulam a proliferação de linfócitos B e a produçãode uma pletora de IgE alérgeno-específicos. A IgE se distribui pela superfície
das células dendríticas e de mastócitos,
originando a formação de complexo
antígeno-anticorpo, o realce da capacitação e da apresentação antigênica e a
degranulação mastocitária, o que conduz à amplificação da resposta imune,
da inflamação e do prurido associado à
dermatite atópica (FARIAS, 2007).
Outro fato importante no desenvolvimento da resposta imunoalérgica em
pacientes atópicos está relacionado à diminuição na formação de TGF-α, o
que favorece a resposta de hipersensibilidade a inúmeros alérgenos, na medida
em que esta citocina está intimamente
relacionada ao sistema de tolerância e
imunorregulação. (FARIAS, 2007).
A continuidade da resposta imunoalérgica e a cronificação da dermatite atópica estão intimamente relacionadas à presença da IL-5, a qual aumenta a sobrevida e estimula a migração e ativação de
eosinófilos para a pele. Paralelamente,
observa-se uma inervação do perfil de
resposta imune envolvendo a produção
de citocinas TH1, como a TNFα de GMCSF, as quais estimulam a infiltração de células T, macrófagos e eosinófilos, conduzem a uma sub-regulação de ceratinó-
citos e inibem a apoptose de monócitos,
gerando a hiperceratose, a liquenização
e o aumento da deposição de colágeno
e fibrose tegumentar (FARIAS, 2007)
Fatores Intensificadores:
- Aero-alérgenos:
Os alérgenos provenientes dos ácaros
da poeira doméstica são os principais
responsáveis pela sensibilização e pelo
desenvolvimento dos sintomas clínicos
de doenças alérgicas em ambiente domiciliar. Esses ácaros vivem geralmente
em roupas de cama, travesseiros, carpetes, tapetes e outros materiais têxteis
do domicílio, onde se alimentam de descamações do epitélio humano, fungos,
bactérias, detritos orgânicos e secreções
humanas. A exposição a alérgenos de
baratas também tem sido implicada
como causa comum de sensibilização e
crise alérgica em indivíduos susceptíveis
(FARIAS, 2007).
- Trofo-alégernos:
Capazes de induzir uma resposta de hipersensibilidade e têm origem nas proteínas de carnes bovina, suína, equina e
de frango, do leite (caseína e lactona),
do ovo, do trigo, da aveia e de derivados
da soja ou em fungos e algas presentes
na água. Dessa forma, a grande variedade de proteínas e ingredientes utilizados
na composição da ração, bem como os
seus métodos de processamento e conservação, têm sido responsáveis pela indução de resposta imunoalérgica em
cães (FARIAS, 2007).
- Alérgenos microbianos:
O excesso de citocinas TH2 presentes na
dermatite atópica conduz a uma subexpressão de genes responsáveis pela formação de peptídeos antimicrobianos na
pele, como as defensinas, fazendo com
que pacientes portadores dessa moléstia apresentem uma maior colonização
e uma tendência à infecção induzida por
bactérias e fungos, sendo grandes responsáveis pela indução, exacerbação e
manutenção dessa dermatite (NUTTAL,
2008; FARIAS, 2007).
- Irritantes:
Frequentemente em cobertores ou roupas de lã, tecidos sintéticos ou ásperos,
carpetes, tapetes, agentes de limpeza
ambiental ou de roupas, irritantes quí-
micos ou presentes na superfície de
plantas ou gramíneas podem provocar
irritação mecânica, modificar o pH tegumentar, alterar a barreira epidermal
e exacerbar a resposta inflamatória e o
prurido no cão atópico, sem o envolvimento de mecanismos imunológicos
(NUTTAL, 2008; FARIAS, 2007; MEDLE-AU; RAKICH, 1996).
- Autoalérgenos:
O trauma contínuo da pele induzido
pelo prurido tem conduzido à libera-
ção de uma proteína citoplasmática do
ceratinócito que tem a capacidade de
ativar células T, levar à formação de
IgE alérgeno-específico e à liberação
de citocinas tipo TH1, realçando a resposta imunoalérgica e o prurido, sendo
um dos responsáveis pela perpetuação
e cronificando as lesões tegumentares
(FARIAS, 2007).
- Alterações comportamentais:
O excesso de estímulo ocasionado pelo
prurido contínuo da dermatite atópica
está associado a inúmeras alterações
comportamentais, indução de ansiedade e atos compulsivos. Adicionalmente,
a liberação de neuropeptídeos por fibras
nervosas epidermais, induzida pelo estresse, tem sido relacionada à diminui-
ção da apoptose e ao aumento da meiavida de eosinófilos, o que colabora para
a iniciação ou a perpetuação dos sintomas relacionados à doença (NUTTAL,
2008; FARIAS, 2007).
CORTICOIDES:
Os glicocorticoides influem direta e indiretamente na expressão genética e
favorecem a ativação da anexina 1 e da
MAPK fosfatase 1, reprimindo a transcrição da cicloxigenase 2. Desta forma,
os glicocorticoides bloqueiam a libera-
ção de ácido aracdônico e a formação
de eicosanoides, que seriam as prostaglandinas, leucotrienos, tromboxanos e
prostaciclinas, inibem a transcrição de
citocinas, quimiocinas, fator de proliferação vascular, moléculas de adesão e
de fatores de crescimento; diminuem a
ativação das células de Langerhans, linfócitos T e ainda estabilizam a membrana dos mastócitos (FARIAS, 2007).
Tratamento
Existem três possibilidades terapêuticas.
A primeira consiste na retirada dos agentes causadores da alergia do ambiente
em que o animal vive, porém em muitos
casos isto não é possível, mas deve ser
considerado (NUTTAL, 2008; FARIAS,
2007; MEDLEAU; RAKICH, 1996).
A segunda possibilidade é a hipossensibilização, esta consiste em uma série
de injeções de alérgenos diluídos que
são aplicados no animal para torná-lo
menos sensível à sua alergia, porém é
apenas apropriada em animais com sensibilidades identificadas (NUTTAL, 2008;
FARIAS, 2007; MEDLEAU; RAKICH,
1996). Porém, em gatos, esta terapêutica, embora baixa, é similar, quando baseada em testes intradérmicos e in vitro
(WOLBERG; BLANCO, 2008).
A terceira envolve ações combinadas
que controlam o prurido e consequentemente as lesões, mas que dependem da
colaboração do proprietário, esta possibilidade envolve a retirada do máximo
possível dos locais colonizados por ácaros; controle de ectoparasitas (pulgas),
com produto(s) de eficácia excelente;
controle de infecções bacterianas, podendo ser necessário o uso crônico ou
“pulsoterapia” de antibióticos; controle
de  Malassezia pachydermatis, sempre
que necessário; uso inicial de anti-histamínico ou corticoide; diminuição da
frequência e tempo de banhos e uso di-
ário de hidratantes; e uso de ácidos graxos essenciais (NUTTAL, 2008; FARIAS,
2007; WILLEMSE, 1998; MEDLEAU;
RAKICH, 1996).
Porém, em atopia felina coexiste frequentemente com outras alergias, é necessário excluir todas as alergias antes
de estabelecer um diagnóstico definitivo
(WOLBERG; BLANCO, 2008).
O controle de infecção bacteriana deve
ser feito com antibiótico de amplo espectro como, por exemplo, a cefalexina,
que tem como característica distribuir
em todos os tecidos e atingem boas
concentrações, principalmente em pele
e tecido subcutâneo, com isso favorecendo o controle (ANDRADE; GIUFFRIDA; RIBEIRO, 2002).
O tratamento da  Malassezia pachydermatis pode ser feito com produto contendo Miconazol, quando necessário.
O corticoide é a droga mais utilizada na
dermatologia veterinária por ser econô-
mica, fácil de administrar e de elevada
eficácia. Em doses farmacológicas, inibe a expressão de genes que codificam
uma variedade de moléculas envolvidas
na imunidade e na inflamação, resultando numa rápida e profunda imunossupressão e diminuição da inflamação
(NUTTAL, 2008; FARIAS, 2007; MEDLEAU; RAKICH, 1996).
Corticosteroides orais de curta ação,
como a prednisolona na dose de 0,5 a 1
mg/kg, podem ser indicados no controle
da exacerbação aguda da inflamação e
do prurido relacionados à dermatite ató-
pica, até a diminuição dos sinais clínicos.
Em casos crônicos e que não respondem
a terapias alternativas e dependem dos
corticoides para controlar o prurido, o
uso a longo prazo deve ser restrito. Nesses casos, após a instituição da dose de
0,5 mg/kg/24h, seu uso deve ser espa-
çado para cada 48 horas e posteriormente a cada 72 horas, sua dose então
deve ser reduzida e espaçada até se encontrar um equilíbrio entre ausência de
sinais clínicos e de efeitos colaterais da
corticoideterapia (NUTTAL, 2008; FARIAS, 2007).
Já o uso concomitante de ácidos graxos
essenciais é importante devido a estes
serem responsáveis pela manutenção de
uma pele elástica e para eficácia das defesas contra as agressões externas (DE-THIOUX, 2008). Estes produtos podem
ser eficientes na redução do prurido
pelo bloqueio do metabolismo do ácido
araquidônico, diminuindo a liberação de
mediadores inflamatórios; mesmo que a
suplementação com ácidos graxos não
seja completamente eficiente sozinha,
seu uso com os glicocorticoides pode
permitir acentuada redução na dosagem
do glicocorticoide (MEDLEAU; RAKICH,
1996). Muitos animais atópicos melhoram de modo inespecífico após os ensaios alimentares, provavelmente devido às dietas utilizadas que apresentam
elevada qualidade e são enriquecidas
em ácidos graxos essenciais (NUTTAL,
2008).
O tratamento sintomático usando antihistamínicos, suplementação com ácidos graxos ou doses anti-inflamatórias
de glicocorticoides não interfere na imunoterapia e pode ser usado concomitantemente (MEDLEAU; RAKICH, 1996).

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