sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM CÃES E GATOS

A insuficiência renal crônica é uma afecção comum nas espécies felina e
canina, sendo definida como uma falência renal que persiste por um período
prolongado de tempo que pode ser de meses ou anos. Independentemente da causa
primária, apresenta lesões estruturais renais irreversíveis que causam declínio
progressivo e inexorável da função dos rins que, por sua vez, acarretam uma série de
alterações metabólicas (Rubin, 1997; Polzin, 1997).
Há três origens para a insuficiência renal crônica: a congênita, a familiar e a
adquirida. Geralmente, a ocorrência de insuficiência renal crônica é baseada em
causas congênitas e familiares com base na raça e histórico familiar, idade de
surgimento da afecção ou através de dados radiográficos e ultrasonográficos (Rubin,
1997).

A história clínica da insuficiência renal crônica varia dependendo da natureza,
severidade, duração e progressão do quadro, presença de doenças coexistentes mas
não relatadas, idade e espécie do animal. A incidência é maior em pacientes idosos,
com muitos sinais insidiosos (Rubin, 1997).
Existem alguns mecanismos compensatórios que contribuem para a
perpetuação e progressão do dano renal da insuficiência renal crônica. São eles: a
hipertensão, a hiperfiltração capilar glomerular, a hipertrofia renal, o aumento do consumo renal de oxigênio, o aumento da amoniagênese renal e a alteração no
metabolismo do fosfato. Estes mecanismos ocorrem com a tentativa de manter a
homeostase pela atividade renal remanescente.
Alguns cães e gatos, nas fases iniciais da insuficiência renal crônica, podem
apresentar-se assintomáticos (Rubin,1997). A presença de poliúria e polidipsia
compensatória estão entre as primeiras manifestações clínicas da insuficiência renal
crônica em cães observadas pelo proprietário, o que ocorre com menos freqüência
nos gatos devido aos hábitos livres dos felinos e da sua grande capacidade de
concentração de urina, mesmo presente nos estágios finais da insuficiência renal. A
desidratação é freqüente tanto nos cães quanto nos gatos, mas especialmente para os
felinos, nos quais a ingestão de líquido não supera ou não equilibra a perda hídrica
pela urina. A desidratação pode ser identificada pelo ressecamento das mucosas,
perda da elasticidade cutânea e enoftalmia (Andrade, 2002; Polzin, 1997).
Com o comprometimento da excreção de substâncias tóxicas dos rins, ocorre o
gradativo acúmulo de componentes nitrogenados  não protéicos (toxinas uremias) na
circulação sangüínea, e, assim, os achados clínicos e laboratoriais na insuficiência
renal crônica refletem o estado urêmico do paciente, dando uma característica
polissistêmica à doença, com o comprometimento de diversos sistemas (Polzin, 1997).
As alterações neurológicas podem estar presentes na forma de apatia,
tremores, ataxia, mioclonias, excitação,  convulsão e coma, sendo que muitas destas
manifestações neurológicas podem ser decorrentes da uremia ou do
hiperparatiroidismo renal secundário (Polzin, 1997; Rubin, 1997).
A acidose metabólica é um distúrbio ácido-básico freqüentemente observado
na insuficiência renal crônica, sendo resultante, numa fase inicial, da incapacidade
renal de excretar os íons hidrogênio, e, em uma fase posterior, em excreção de
amônio pelos néfrons remanescentes.
A acidose metabólica foi observada em 50%, 63% e 80% dos gatos, segundo
estudos realizados por DiBartola e cols. (1997), sendo que a acidose foi detectada
com maior freqüência nos casos mais avançados da doença.
Alterações laboratoriais normalmente encontradas em cães e gatos com
insuficiência renal crônica incluem hiperazotemia, hiperfosfatemia, aumento sérico de
PTH, acidose metabólica e anemia não regenerativa, isostenúria, hipopotassemia,
hipercolesterolemia, hipercalcemia ou hipocalcemia, hiperamilasemia, proteinúria e
infecção do trato urinário (Polzin, 1997). A estratégica terapêutica é dividida e direcionada em dois aspectos: o primeiro,
que pode ser chamado de terapia específica, visa o tratamento da causa primária da
lesão renal, e o segundo, denominado de terapia conservativa, consiste no tratamento
sintomático do paciente.
Assim sendo, o tratamento específico pode ser resumido na utilização de
antibióticos, remoção cirúrgica – dependendo da gravidade da doença –,
administração de medicamentos inibidores da enzima de conversão da angiotensina e
os bloqueadores dos canais de cálcio, entre outros medicamentos (Andrade, 2002;
Rubin, 1997).
Quanto ao emprego da terapia conservativa, objetiva-se maximizar a função
renal residual, reduzir a progressão da falência renal e aliviar os sinais da uremia.
Assim sendo, num breve resumo, os pacientes sintomáticos com insuficiência renal
crônica necessitarão de fluidoterapia, reposição de calorias de origem não-proteína,
redução gradual da quantidade ingerida de sódio, tratamento para a correção dos
desequilíbrios ocasionados pelas desordens gastroentéricas, pela poliúria, pelo déficit
ou excesso de eletrólitos como também pelo acúmulo de toxinas (Polzin, 1997; Rubin,
1997).

A insuficiência renal crônica é uma doença progressiva e com conseqüências
desastrosas para o animal, se não for descoberta a tempo. É importante para o
médico veterinário conhecer todos os sinais e sintomas clínicos apresentados pela
doença, pois só assim conseguirá diagnosticar e prescrever corretamente os
medicamentos. Pacientes com insuficiência renal crônica freqüentemente conseguem
sobreviver por muitos anos, com qualidade de vida, se o tratamento for adequado,
embora não haja reversão das lesões ocasionadas nos rins.

ANDRADE, S. F. Manual de Terapêutica Veterinária. 2. ed. São Paulo: Roca Ltda,
2002, p. 289-291. DIBARTOLA, S. P. Abordagem clínica e avaliação laboratorial da afecção renal.
In: ETTINGER, S. J., FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária, 1. ed.
São Paulo: Manole, 1997. p. 2355-2373.
RUBIN, S. I. Chronic renal failure and its management and nephrolithiasis. In:
Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 27, n. 6, p. 1331-1354,
1997.
POLZIN, D. J. Insuficiência Renal Crônica. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C.
Tratado de Medicina Interna Veterinária, 1. ed. São Paulo: Manole, 1997. p. 2394-
2431.

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